Tá faltando o pai aí
Hellinger dizia que o sucesso tem a cara da mãe. É fato. A abundância nos vem de tudo que ela nos entregou, até o próprio risco de perder a Vida, caso algo acontecesse na nossa gestação. Acrescido à abundância nos vem dela também, o servir, indistintamente, visto que tivemos um verdadeiro delivery maternal full time quando pequenos. Já o pai, o ilustre desconhecido que nos é apresentado após o nascimento, ou muitas vezes, não, porque ele não estava ao lado da nossa mãe, o que ele nos entregou? Também a Vida, por certo, a possibilidade desta vida, assim como a conhecemos. Nos anos que se seguem de crescimento, circunstâncias podem nos afastar do pai, seja pela morte, pela separação, ou mesmo quando presente, nos faz sentir que não éramos vistos por ele. E agora, nos falta o pai. E quando esse pai falta também a um povo, a uma nação, a um país? Nos tornamos indisciplinados, credores, pedintes, insubordináveis. Em muitas pinturas de Madonas, o pintor Rafael, retratava Maria, com o menino Jesus, no braço esquerdo, o braço da contenção, da continência ao bebê e suas necessidades. Já o braço direito é o braço paterno, que solta, que libera. A mãe dá contenção, o pai aponta para as estrelas, é dele que vem o impulso de ir pra vida. Temos tantas vezes, a disposição para o trabalho, a ideia, a iniciativa, um servir impecável, mas nos falta a força para persistir porque nos custa muito entregar o preço que nos reivindica o mundo lá fora. Quando não, cedemos nossa vez aos outros, pois temos vergonha ou somos humildes demais. Resistimos às mudanças necessárias nas fases seguintes de nossa biografia. Estamos lotados do arquétipo da "mãe boa demais". E o que nos traz a potência para persistir, que nos gera a força da "acabativa", é sempre o pai. Agora, adultos, podemos olhar para o nosso pai, não somente o homem, por vezes, ausente, ou com um desafiante histórico familiar, olhamos também para além dele, para os homens que vieram antes dele, e imaginamos o que cada um entregou para que nós estivéssemos aqui, inclusive, talvez, a própria vida, protegendo nossos antepassados de um perigo. Foram grandes, todos eles. Foram para nós, perfeitos, pois não há nada que possa ser mudado lá atrás. Cada um passou adiante a Vida, perfeitamente. Então, nos cabe olhar para o arquétipo do Pai, que reside em cada homem da nossa família, e sentir a nutrição, física, anímica e espiritual que chega a cada um de nós, e tomarmos dela a potência de realização de vida, afinal somos "plantadeira de semente boa". Então, não só como indivíduos, também como cidadãos, nos tornamos mais responsáveis. Vamos de credores a doadores. Internalizamos o pai, amplamente.
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