Aquela a quem chamam de narcisista perversa
Aquela a quem chamam narcisista perversa.
- Sim, Meredith Gray, esta sim é sua mãe. É o que eu diria a personagem Meredith, do seriado Gray`s Anatomy, caso ela me contasse a experiência de morte que ela e a mãe passaram, onde a mãe se despede dela com a seguinte frase: "Você pode ser tudo, menos incompetente". A mãe, que teve uma convivência traumática com a filha, reconhece finalmente o valor dela. Toca a filha espiritualmente, talvez não mais envolta ou subjugada que seja por uma patologia ou um emaranhado familiar. Percebo que, em alguma medida, todos nós tivemos contato com o narcisismo de nossas mães, e também como mãe, reconheço em mim certos comportamentos com traços narcisistas. Bem intencionados, mas, chamativos, pedantes ou intransigentes. Agora, do ponto de vista sistêmico, busquei cinco dinâmicas determinantes para esse padrão: 1 - Quem é que nos SERVE desde que somos gerados? A mãe. E ela faz isso, abundantemente, ao nos receber em seu corpo, nos nutrindo, parindo e alimentando. Então, para uma mãe que espera apenas ser servida, de quem realmente ela espera esse servir? Da própria mãe. Dessa forma, por alguma razão determinante, a mãe experimenta um colapsamento emocional na relação com a própria mãe. E não com sua filha, que acaba recebendo a projeção de algo que falta para a mãe, lá atrás. A filha é tratada pela mãe como uma devedora. 2 - A mãe pode ser uma filhinha do papai. Não cresceu, está deslocada do seu lugar de filha. Daí deriva sua não responsabilidade como a maior, a mais velha. Pelo contrário, encena disputas insensatas com sua filha. 3 - Pode ser ainda, que na família de origem, falte alguém, como no caso de uma gravidez interrompida, de uma morte precoce ou de um filho em segredo dos pais da mãe, então a mãe tem uma imagem distorcida da própria filha, que a vê, por ex., como a irmã não reconhecida. Deslocada do seu lugar, a mãe teria um comportamento ciumento com sua filha. 4 Algumas mulheres veem seus maridos, como seu próprio pai, e de novo, a mãe experimenta um deslocamento do seu lugar de mulher, passando a competir com a filha pela atenção do pai. 5 - O medo da morte, o medo do perecimento vem muitas vezes de um sofrimento familiar, como das reiteradas experiências das mulheres da família com sofrimentos obstétricos ou abandono de seus parceiros. Então, o sistema familiar guarda essa memória de dor, e suas descendentes tomam isso como próprio, e intimamente recusam viver este destino, podendo passar a super valorizar um padrão estético de beleza, e também, disputando com a filha o lugar da mais jovem na casa. Enfim, a casuística é ampla para este tema, mas apenas a observação do campo familiar numa Constelação familiar, poderia reconhecer da onde vem e qual dinâmicas ocultas que sustentam estes comportamentos da mãe. Eu, pessoalmente, nunca uso este termo para me referir a mãe de uma cliente, não a rotulo, pois isso traria mais ou menos força de resolução para ela, filha? De qualquer maneira, a poderosa frase: " Mãe, eu deixo com você, o que é seu, é pesado de mais pra mim. Sou apenas a filha, a pequena." Já é uma boa direção para o movimento de autonomia emocional da filha em relação a esta característica da mãe. A mãe é perfeita, esta característica da mãe, que desafia o relacionamento de ambas. Por fim, voltando a Meredith, do Gray`s Anatomy, se vê que pelo destino desafiante que teve com a mãe, ela se torna a personagem mais empática e acolhedora entre seus colegas, características que ela desenvolve através do longo tempo que passa a clarear, compreender e aceitar a relação com sua mãe. Lembre-se, aceitar não é concordar. É dar continência ao outro e sua sina.
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