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A anemia e o não pertencimento a família


Desde o nascimento me vi as voltas com o tratamento da anemia. Fui uma criança "esquálida", fraquinha, veias aparentes no rosto. Injeções de ferropriva me acompanharam dolorosamente por toda infância, não havia região do bumbum que já não conhecesse a bojuda agulhada.

Má alimentação gestacional da mãe era considerada a causa mais provável para esse quadro anêmico.

E provavelmente era, considerando a pobreza e o abandono experimentado por minha mãe natural durante a gravidez.

Até que, já na fase adulta, vivenciando uma imersão terapêutica em grupo, pude me aprofundar nas causas dessa anemia, indiretamente. Buscava compreender o porque do meu sentimento de muitas vezes, não ser vista, ou não ser ouvida, não obstante ter consciência da troca afetuosa que tinha com muitas pessoas. Mas na real, o sentimento sempre esteva lá, sugando vitalidade de mim.

Me trazendo um sentido de menos valia.

Pois bem, a medida que caminhava nas frases que pudessem trazer algum conteúdo do inconsciente, frases como: - Eu não sou vista, -Eu falo e não me dão atenção- Não me querem aqui. - Sou pequena, transparente........Fui recebendo imagens, que logo transportaram sensações vívidas para meu corpo, dolorosas mesmo; primeiro, tive a sensação de ainda que alimentada no peito quando bebê, sorvia o leite, sem sentir saciedade. Em seguida, me vi no útero materno, e era bom, quente, barulho de água dentro de um tanque; em seguida, senti um estreitamento lateral e vi meu cordão umbilical escurecido, como que obstruído em sua ligação com a placenta.

Respirei, tentei me acalmar perante a forte sensação de ameaça que isso me proporcionava, outras pessoas do grupo terapêutico se juntaram a mim pra me auxiliar, me tocando e apoiando.

Novas frases foram sendo colocadas, pra que eu pudesse aliviar esses sintomas e avançar na compreensão dessa situação uterina.

Logo percebi minha mãe, e me venho a sensação de que -"Ela não me quer aqui!",

Isso me causou dor e choro.

Perguntada por um membro do grupo se havia mais alguém próximo a minha mãe, percebi a presença de uma outra mulher, minha avó (a quem não conheci pessoalmente), ela estava demonstrando reprovação diante da gravidez da filha, e dela veio a seguinte frase:

"-Filha, pobre não tem o direito de ter filho."

Fui tomada de nova sensação de dor, e uma fraqueza me tomou as pernas e braços, e frio, muito frio.

Percebi que de minha mãe vinha desalento e uma sensação de desamparo.

Ainda assistida pelo meu grupo, um dos colegas me pede pra olhar em volta e ver se alguém, próximo a minha mãe pode ampará-la, e uma outra sensação vai me tomando, mais agradável e quente, e aos pouco percebo a aproximação de um homem, ele olha pra minha mãe, e no olhar dos dois reconheço afeto. Meu pai.

Recebo a nítida impressão de que meu pai acolhe a gravidez de minha mãe, como se ele olhasse pra mim e sorrisse.

Sou tomada, agora, por uma das minhas parceiras de trabalho terapêutico, no colo, e ela, se colocando a disposição como minha mãe, me embala, me acalma, e eu silencio minhas emoções nesse abraço, e me conecto aos meus pais e a ligação de afeto que os dois experimentaram.

Passaram-se meses até que eu pudesse compreender o sentido dessa profunda vivência, e qual principal efeito que experimentava nesses anos todos de vida: Eu sempre busquei aprovação.

Eu buscava pertencer, desesperadamente. Sem saber, tinha comportamentos onde eu tentava agradar a todos, ser aprovada, incluída. Em casa, na escola...

Se afinal, minha avó de fato disse aquelas palavras, ou o que talvez seja mais provável, fosse já uma crença familiar, de que "pra que colocar outro pobre no mundo, pra sofrer?"

A percepção intrauterina dessa crença me trouxe o reconhecimento de um trauma, um sentido de desagregação, e um inevitável redução de glóbulos vermelhos, pela carência de nutrientes essenciais como ferro, vitamina B12, proteinas. " E essa condição física reflete o estado do espírito - e essa é a fonte que nutre os tecidos orgânicos". Se relaciona inevitavelmente ao fluxo , do sangue, da vida. Pessoas anêmicas tem uma condução aérea com a vida. Seus pés resistem em firmar-se no solo, deixam-se passar a vez, se tolhem as mais prazerosas experiências por medo de errar.

. A anemia pode estar relacionada a autoestima. "Pessoas que subestimam a sua capacidade de realização tendem a sofrer mais com a anemia." Pois, aguardando a aprovação dos outros, muitas vezes, estagnam. Por isso, tendem ao sentimentalismo, a uma postura de vítima. Por que você não me vê?

No entanto, sabemos que no veneno, repousa o antídoto. Basta me saber pertencente a uma comunidade de destino. Sim, este é meu destino, tocar a pobreza, experienciar a rejeição. Nessa comunidade nos ligamos no abandono, no medo e nos rejeitamos a nós mesmos. A minha história familiar é como a história de muitas outras famílias. Quanta grandeza em cada uma deles!

Com essa nova consciência, passo a me punir menos, me saboto menos. Eu tenho o direito a felicidade, também. Vou me apropriando dessa postura.

EXPERIMENTO.

É uma PERMISSÃO. Que vem mesmo de meus antepassados.

Não há espaço pro julgamento. Há compreensão de que fizeram como fizeram pois era o único modo que conheciam. Agora eu sei.

E os libero. E tomo a tarefa de ser feliz, fazendo agora de outro jeito, não melhor, apenas do meu jeito. Em honra aos que vieram antes.

Respiro e fluo.

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frases entre aspas - Cristina Cairo - em A linguagem do corpo.

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A Autora

Rita Paula Tyminski Xavier

Facilitadora em Constelações Familiares

Atendimentos em São Paulo - capital e Londrina Pr

youtube Paula Tyminski

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