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TDAH - O amor e a dor superlativos - uma breve visão pelas constelações familiares


Escrevo este post não pela percepção de uma médica, pedagoga ou mesmo psicóloga, e sim como UMA TDAH - portadora do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade - uma nomenclatura recente para uma história antiga.

Muito cedo minha mãe percebeu minha acentuada distração e agitação, seguiu sua intuição e me colocou nas aulas de pintura - sequer sabia assinar meu nome - mas já compreendia a fusão de cores e pontos de fuga ( talvez porque meu universo psíquico estivesse lotado por eles, rsrs), e nas aulas de ballet , onde a engenhosidade francesa dos passos e compassos me faziam descer do balão inflável que passava a maior parte do meu dia.

Sempre soube - E TODO TDAH- também o sabe, que temos uma força contrária, que nos faz enfrentar um mar de gente, que vem em sentido oposto, somente porque - ou por tudo isso - nossa impulsividade, nossa inquietação nos projeta sem capacete nessa multidão, para que afinal expressemos, de forma caótica, muitas vezes, nosso interesse compulsivo ou nossa paixão impulsiva por algo ou alguém.

Da infância para a adolescência vivi reiteradas vezes os mesmos episódios de "esquecimentos", de atrasos, de antecipações, como se dentro de mim, a par do relógio da parede houvesse outro, com vontade própria ( e que vontade!), onde os ponteiros se tornavam lépidos quando eu me deparava com um grupo de borboletas, que me levavam para as nuvens, onde de lá eu saltava por entre carneirinhos, pra descer por um escorrega gigante, e..... "-Menina, acorda, só falta você para entregar a tarefa!" Em outras, os ponteiros eram enferrujados, rastejantes e a sala de aula se tornava um salão de enorme proporção e eu me sentia uma miniatura, onde escrever no caderno, terminar um texto exigiria de mim muito mais tempo do que o professor havia combinado, isso se eu tivesse começado na página certa o texto!

Eu sabia que havia um problema comigo: EU ERA O PROBLEMA - só podia ser.... todos diziam que - " Você precisa ser mais responsável! " " - Precisa amadurecer!" - "Onde você está com sua cabeça?"

Hoje sabe-se que o portador de TDA não é exatamente rebelde ou insubordinado, mas que, propriamente, não recebe estímulos, É INUNDADO POR ELES! É invariavelmente assaltado por um fluxo incessante de idéias e imagens, que não consegue filtrar da maneira correta, por isso não prioriza seus afazeres, e acaba esquecendo, por exemplo, o que foi buscar no quarto (trajeto que reserva muitas áreas de interesse, rsrs) e quando volta a sala, já não lembra mais porque queria o objeto. E vivasse com esse ruído mental!

Hoje também se sabe que o pivô desse transtorno é uma alteração bioquímica, um lance do córtex pré frontal não filtrar os estímulos externos, ou seja, todo novo elemento que se apresenta, entra em cena, indiscriminadamente, e o tdah, invariavelmente, já conhecido como "cabeça de vento", faz, depois pensa, ou seja NÃO PRIORIZA seus afazeres ou prioriza quase compulsivamente, e o resultado pode ser, um desastre, ou, pasmem, uma obra prima!!

Interessante que nos momentos de hiperfoco é que o tdah está mais relaxado, mais centrado.

Ele está presente.

A presença é o tema de qualquer portador de TDAH. Quando finalmente estiver presente - entender seu modo de ser, canalizar seus impulsos e idéias, aperfeiçoar sua forma de agir e pensar, terá uma auto estima mais fortalecida, não tombará tão facilmente frente as reprovações, não se sentirá como o patinho feio....INAPROPRIADO.

Já adulta, resolvi finalmente entender o que eu tinha. Não dava mais. Meu âmbito de atuação havia aumentado - casamento, filhos, casa, rotina, mais rotina, larga trabalho, assume outra atividade.....sentia-me as vezes um capiau abandonado a própria sorte no cruzamento da 25 de março com a Ladeira Porto Geral, em São Paulo. Perdida! Proporcionalmente, meu grau de desordem material, física e emocional estava exponenciado também. Pra não ajudar, as mulheres da família e as amigas eram, quase todas, 'perfeitas'. E eu me conduzindo aos trancos e barrancos emocionalmente, exausta, impulsiva, sonhadora.

No entanto preservava o "lado criança", a brincadeira, o bom humor, uma intensa capacidade de fantasiar. Eu era um desafio de compreensão para mim mesma! Então, encontrei o livro MENTES INQUIETAS, e a cada página fui me sentindo acolhida e traduzida pelas palavras da narradora, também uma tdah.

Eu não era errada, eu enxergava o mundo com outras lentes, onde as cores tinham uma tinta mais carregada, as sensações e sentimentos me tocavam no superlativo. Tudo no mundo era "too much" pra mim.

Gargalhei quando a autora descreveu (acertadamente!!) que meu marido não poderia sempre contar comigo na hora e com perfeição, e que nunca encontraria a mesma mulher todos os dias (rsrs) e que, invariavelmente eu seria uma companhia divertida e espirituosa. E que meus filhos veriam uma mãe competitiva e que sairia batendo o pé se perdesse uma partida de jogo imobiário, e que eles me achariam "demais"!

O autoconhecimento acalma, kkk.

No entanto, por quê? Por que tantas crianças apresentam essa deficiência bioquímica? Sabe-se que o ambiente familiar exigente e descompensado também leva a criança com predisposição, a apresentar os sintomas da TDAH. Mas que mais poderia ter no TDAH que pudéssemos conhecer?

As Constelações familiares fizeram o primeiro sobrevoo metafísico nessa compreensão.

As crianças "diagnosticadas" com hiperatividade ou depressivas são as que mais amam, e aceitam a árdua "tarefa" de manifestar um SINTOMA.

O "transtorno" é um sintoma que aponta para algo que não vai bem. Para algo que está em desordem. É uma desordem no sistema familiar - alguém neste sistema foi excluído ou esquecido.

Se a criança desatenta não se concentra, não olha para frente, pra onde ela está olhando? ELA OLHA PARA O EXCLUÍDO. Algo mais importante a PRÉ ocupa, a desvia, e ela não pode estar presente, bingo!!

Por isso, numa constelação não se olha para o diagnóstico, para o rótulo, se olha se nessa família há um exclusão, como uma primeira hipótese.

Para exemplificar, uma terapeuta recebe uma avó que quer olhar o comportamento de seu neto, criança de 8 anos, hiperativa, desconcentrada e irritada, colocado os elementos no campo da constelação, evidencia-se que a criança olha pra mãe falecida quando ela tinha 8 meses, sobre a qual todos apenas diziam "ela foi embora", porque pela própria dor que a família sentia, não aceitavam a morte, a verdade.

Em outra, a criança tem reiterado comportamento de fuga da escola, e olhando para o campo, evidencia-se as tentativas de suicídio da mãe, as quais a criança não tinha conhecimento. A criança queria estar com a mãe.

Outros exs., o pai não conhecido. O irmão adcto. Um dos pais que não fala com sua família. A reprovação de um dos pais ao outro no casamento.

Diz-se que a criança quer salvar os pais, pelo grande amor que sente. Toma o lugar de outro membro da família, adquire os sentimentos do outro. E reflete esses sentimentos, por ex., quando relatam de que tem a sensação de que há algo a fazer ou a pensar, ou de que alguma coisa está faltando.

Tenho tido observações, que pra mim trazem os indícios de que a criança com TDAH realmente, pode estar representa alguém excluído. Observe as falas direcionadas para uma criança com deficit de atenção -

" Sai daqui." - "Fica quieta." -"Sabia que era você." Você não faz nada certo." "Você vive no mundo da lua."

São frases que trazem uma mensagem subliminar, como se o recado fosse -

_"Você não pertence."

-"Você é um excluído."

- "EU NÃO VEJO VOCÊ."

E daí derivaria a sensação de inadequado, de não pertencente, de baixa auto estima que a criança tem - tal qual sente ou sentiu a pessoa daquela família objeto da exclusão.

Na constelação, à medida que o excluído retorna ao campo de visão - a criança vai se desobrigando e pode novamente olhar para si.

Acredito que um dos efeitos mais importantes desse tipo de constelação é a TOMADA DE CONSCIÊNCIA dos pais ou família, de que há assuntos GRANDES demais para uma criança, que ocupa um lugar que não é seu, por amor, por uma tentativa, que despende muita energia e saúde, de reconexão de membros desse sistema. E que, muitas vezes, nós adultos também cumprimos com as lealdades familiares e também não estamos no nosso lugar, procurando um amor perdido, um vínculo interrompido, e não somos presentes para as crianças. Tal como elas, estamos, muitas vezes, tentando salvar alguém desse sistema.

Interessantíssima é a colocação da autora de Mentes inquietas, que diz que "crises inexplicáveis poderão surgir entre os membros da família se a criança TDA for adequadamente tratada - e os resultados positivos começarem a surgir. Se a melhora ameaçar o sistema familiar pode ser boicotado o tratamento, pois a família havia encontrado seu ponto de equilíbrio nesta criança problemática."

" É o bode expiatório da família!" Sim, por supuesto! Enquanto, se olha para a criança como o problema em si, se desonera da responsabilidade de olhar além . Olhar além, amplia, joga luz no que está oculto, ainda.

Por certo, as Constelações familiares são medida complementar, e não substituem qualquer avaliação e acompanhamento médico e psicológico. Auxiliam esses profissionais, quando junto à família da criança, olham para o viés sistêmico dessa família, trazem informação essencial acerca da questão, colaboram para a ruptura de paradigmas e tem por principal efeito a retomada de movimentos interrompidos nos laços de amor desta família.

Por minha experência, sei que a criança com tdah precisa receber CONTINÊNCIA, contenção amorosa, em termos simples, ela precisa de ritmo, de horário, de elogio e incentivo.

Por mais que as influências familiares possam levar a criança apresentar tdah (como foi no meu caso - adoção, ausência do irmão natural, desconhecer a identidade do pai natural) com certeza, a precariedade, o desconforto e o sofrimento no ambiente que vivem, intensificariam e agravariam os sintomas do transtorno. E de um ambiente assim, nenhuma criança prescindi.

Toda criança tdha se torna um adulto tdah, com maior ou menor prevalência dos sintomas. E para o adulto, o autoconhecimento sempre será uma tarefa de casa, para que possa tomar medidas de prevenção de desastres diários, como eu diria, saber "a conta", saber o basta, o que é, e o que não é pra mim.

E, finalmente, viver a sua autenticidade. Só ela garante a sua presença.

Referências no texto

Mentes Inquietas - Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva . Ed. Fontanar

Você é um de nós - Marianne Franke-Gricksch - Ed. Atman

Site - educando nossos filhos - As crianças amam até as últimas consequencias, afirma Bert Hellinger - por Ana Garlet

Elaine Romano - a Cura da TDAH através das Constelações familiares

imagem - arquivo pessoal

A autora -

Rita Paula Tyminski Xavier - formada em Direito, facilitadora de Constelação Familiar, pós graduando em Constelação Familiar na Hellinger Schule

Atendimentos - em São Paulo - capital e Londrina - Pr

email - ritapaulatym@yahoo.com.br

youtube - Paula Tyminski

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