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O pano de fundo da Alienação Parental


A alienação parental tem sempre uma boa intenção. Sim! A de proteger um filho.

Imbuído dessa intenção , um genitor tende a afastar o filho do outro genitor, porque quer vê-lo distanciado da sua influência. O genitor que assim age, considera, consciente ou inconscientemente, que o pai/a mãe assim como é, não é bom¨, ¨não é o certo para a criança¨.

A criança sentindo esta angustia, essa reprovação do genitor que quer vê-lo afastado do outro, passa a acreditar que, sim, este pai ou mãe não é bom, boa pra mim, e se afasta voluntariamente desse pai ou dessa mãe. A criança acredita nisso RACIONALMENTE, porque ela tende a excluir o pai/mãe do seu coração, encontrando argumentos convincentes para isso. E, aqui começa a chamada Síndrome da Alienação Parental.(1)

É A CRIANÇA que desenvolve esta síndrome, não os pais! Pois ela que é exposta aos atos de alienação DOS PAIS.

Pode -se dizer: - " Ah, a criança não pede o pai." No entanto, a criança pode estar dizendo: -"Não vou para não magoar minha mãe. -"Pra não chatear meu pai." A crítica, o julgamento que vem dos adultos, é absorvida pela criança, que fica dividida ou mesmo confusa nos seus sentimentos em relação aos pais.

Contudo, para a criança, na profundeza de sua alma, não existe tal julgamento.

Tudo o que ela quer, É TOMAR SEUS PAIS ASSIM COMO SÃO. EXATAMENTE ASSIM, E DAR A ELES UM LUGAR.

Aliás, esse lugar já existe! Ele foi determinado no encontro amoroso de seus pais, e nada pode com a força desse Amor! Ou, nada pode contra a força sexual propulsora desse encontro! Pode ter sido um encontro breve, longo, de poucas ou muitas histórias, não importa. O filho está indelevelmente vinculado a esta força que conecta ele a seus pais .

A relação pode ter ocorrido pela razão que for, seja cármica, seja por uma paixão, um caso, um rolo. Isso é com os adultos. Não importa para a criança.

A alienação é exclusão.

A exclusão é nociva para o filho.

Na alma do filho não existe "pai errado", " mãe errada".

Tanto é verdade, que, inconscientemente, o filho fará algo que honre esse pai excluído, muitas vezes, repetindo na vida justamente o padrão pelo qual se deu a exclusão.(2)

Quanto mais se nega ao filho o direito de tomar o pai assim como é, maior a força inconsciente que vincula os dois.

Tendo ocorrido um obstáculo desta natureza na relação com os pais, esse impedimento emocional tende a se repetir na vida adulta desta criança, ou mesmo na sua futura vida de casal. Então... onde isso tudo começou?

O que está oculto no conflito do casal que se desentende sobre seus filhos? Qual o conflito atrás do conflito?

Há uma criança ferida dentro desse pai ou mãe que se alienam mutuamente?

Por supuesto!

Todos passamos por experiências desde pequenos, ou mesmo na gestação, que nos afetam numa menor ou maior medida, muitas dessas experiências calam em nós como feridas emocionais, que permanecem dormentes, mas produzindo seus efeitos, e por isso, muito cedo somos levados a vestir alguma máscara para socialmente suportarmos nossas relações, camuflando essas feridas.

Desenvolvemos personalidades, que não correspondem exatamente ao que somos, mas que nos asseguram que aquelas feridas não serão evidenciadas. Um bebe já pode, por sobrevivência, por defesa, moldar uma máscara social, quando por ex., foi rejeitado por um dos pais, ou por ambos!

Seja pela rejeição, abandono, injustiça, traição ou humilhação, desenvolvemos máscaras, disfarces para driblar essas feridas, e nos tornamos então, escapistas, dependentes, masoquistas, controladores ou rígidos ( 3 ).

No entanto, a vida segue e damos início a relacionamentos amorosos, e inevitavelmente, apresentamos, sem que desejemos, os comportamentos alimentados por essas máscaras nessas relações que nos são tão preciosas e que queremos tanto que deem certo. Muitas vezes, superamos nossos desafios, nossos complexos familiares, nossas feridas e subimos uma oitava nas nossas relações, outras tantas esses complexos ainda repercutem seus efeitos e não estamos, ainda, totalmente liberados para a tão desejada relação madura, responsável.... e aquela relação termina, em geral com dor e mágoa, para ambos.

E neste momento, a alienação pode tomar corpo entre o casal e seus filhos. E como um genitor, diante de sua mágoa, da raiva pelo outro genitor, ou mesmo pela família inteira dele, pode sair desse movimento de exclusão ou mesmo não entrar nele?

Aceitando. Aceitar que essa relação aconteceu. Aceitar que essa pessoa foi uma escolha sua. Aceitar o que foi, como foi. Aceitar que foi um aprendizado necessário.

Aceitando que esse homem, ou essa mulher é o certo ou certa para seu filho.

Respeitando o genitor. Não lhe sendo indiferente. A indiferença gera exclusão. O filho sente a exclusão.

Soltando. No seu tempo, da forma que puder, não a ideal, mas da maneira que for, o filho terá com o genitor a melhor relação possível. Você pode visualizar essa imagem, mesmo nos piores momentos.

Assumindo a sua responsabilidade. Paulatinamente, recordando os eventos na sua relação, e antes dela, e antes .... e perceber na sua vida, nas suas escolhas, os motivos que o levaram a esse relacionamento. Por ex., buscar inconscientemente, na figura do marido, a figura do pai ideal.

Deixando a responsabilidade do outro genitor com ele. Ele pode com ela. No tempo dele.

Olhando seu filho, e vendo atrás dele, seu pai e sua mãe, e toda força que vem de ambos.

Saber que seu filho veio sim, preparado para as experiências que teve e terá na vida. Certas atitudes nervosas ou egoístas dos genitores, enfraquecem o filho nessa força de superação intrínsica, inerente a sua alma.

Acolhendo o seu filho. Muitas vezes, um cobertor e um chá, uma pipoca e um filme são o melhor diálogo entre um pai/mãe e um filho, que precisam se adaptar a uma nova vida.

Deve-se também considerar que a alienação parental, sob o ponto de vista sistêmico, ampliado, ocorre não apenas no conflito de guarda ou visitas na separação.

Acontece, muitas vezes, no óbito de um dos genitores, quando ele não é lembrado, quando os filhos tem imagens apagadas ou pouco sabem dele. Esse vazio de lembranças traz pra pessoa, a sensação de menos completude. Contar, varias vezes, pra criança, pequenas histórias desse genitor, deixar que seus avós lhe contem, trazem na criança o sentimento de pertencimento ao clã familiar do genitor falecido, e isso é força pra sua vida.

A alienação também pode se dar de forma subliminar, não ostensiva, e é mais comum que se poderia supor. São as frases tidas como inofensivas ditas nas conversas diárias, que ironizam, debocham do comportamento de um dos genitores. Como se a criança tivesse algum filtro para discernir se o genitor tem ou não essas características apontadas , produzindo a longo prazo uma contaminação na relação dela com o genitor ridicularizado.

Podemos afirmar ainda, que mesmo os pensamentos de desaprovação e descontentamento reiterados de um genitor pelo outro, afetam emocionalmente o filho, que manifesta um desconforto emocional, sem saber distinguir ao certo que o que sente pelos pais seja raiva, dó ou desaprovação.

A lei da Alienação parental (4) traz a consciência dessas práticas e prevê mecanismos para amenizar seus efeitos. Contudo, com o advento do Direito Sistêmico, que tem o Brasil como um dos seus precursores, essa lei ganhou um campo mais abrangente de atuação, com a prática em muitas varas de família, das constelações familiares, que possibilitam aos que estiverem interessados em participar, uma outra percepção desses conflitos, clareando os motivos ocultos que compõem o pano de fundo de suas relações familiares. Possibilitando acordos que preservem a dignidade dos pais e o Princípio do melhor interesse da criança. Não só uma solução, mas acima de tudo paz e equilíbrio para o sistema familiar.

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Referências de estudo:

(1) Síndrome da Alienação Parental - 1985, Richard Gardner - psiquiatra norte americano. A síndrome é tida como uma das consequências provocadas na criança que é exposta a atos de alienação parental - A criança desenvolve sentimentos de profundo repúdio por um dos genitores, sem justificativa plausível.

(2) Blog - Direito Sistêmico - Dr Sami Stoch .

(3) As cinco feridas emocionais - Lise Bourbeau

(4) Lei 12.318, de 26/08/2010

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A autora é facilitadora em constelação familiar.

Formada em Direito pela UEL

Atende em São Paulo, capital e Londrina, Pr

youtube - Paula Tyminski

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